Em 1965, a música brasileira estava polarizada entre a turma do samba e a da bossa, que habitava o programa de TV "Fino da Bossa" comandado por Elis Regina e Jair Rodrigues e a galera do rock, que circulava em torno de Roberto Carlos em outro programa de TV, "Jovem Guarda". Imune a praticamente tudo, inclusive às discussões acaloradas que se tratavam na imprensa sobre o sacrilégio ou não de tocar música brasileira em instrumentos elétricos, Jorge Ben Jor era regularmente convidado para os dois programas e em ambos fazia idêntico sucesso, prova eloquente da capacidade contagiante de seu balanço. Big Ben, seu álbum dessa fase, não tem o mesmo brilho de sua performance ao vivo: no repertório, misturam-se canções originais e composições de outras pessoas, numa tentativa de criar um clima de boate, de Beco das Garrafas. Mas o talento original de Jorge acha brechas a toda hora na psicodélica Jorge Well, cantada num inacreditável inglês, no samba-iê-iê-iê O homem que matou o homem que matou o homem mau (uma referência ao western clássico de John Ford, O Homem que Matou o Facínora), na doca Toda Colorida (cujo verso de abertura cita "Don't let the sun catch you crying", da banda inglesa Gerry and The Pacemakers) e no futuro clássico Agora ninguém chora mais.
Retirado do Box Salve, Jorge!, Contracapa do álbum Negro é Lindo
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